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quinta-feira, dezembro 21, 2006

Desafios 2006-2007

A consciência sobre as mudanças do clima
Toronto, 20/12/2006 – No ano que está por terminar, o público dos Estados Unidos e do Canadá começou a levar a sério a mudança climática, e já pressiona os governos dos dois países para que aceitem uma redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. O que não está tão claro é se este mesmo público está disposto a mudar seus hábitos de consumo para reduzir o aquecimento global. No mês passado, por exemplo, milhares de pessoas passaram pelo menos três dias e três noites fazendo fila diante das lojas de produtos eletrônicos nos Estados Unidos e no Canadá para serem os primeiros a gastar US$ 600 na compra da última edição de um console de jogos eletrônicos.
Quantos passariam duas horas que fosse protestando contra a paralisia dos governos diante do aquecimento do planeta? “Cada vez se constata maior apoio público, mas não estou segura de que haja vontade política para fazer alguma coisa”, disse Eileen Claussen, do Centro Pew sobre Mudança Climática Global, instituição acadêmica norte-americana que trabalha com empresários e dirigentes políticos. As pesquisas feitas no outono passado indicam que o público canadense, e também o norte-americano, está preocupado com o impacto da mudança climática no mundo em que viverão seus filhos e netos e que tem conhecimento da falta de vontade dos governos a respeito desse assunto.
O documentário “Uma verdade inconveniente”, no qual o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore expõe o grande número de evidências sobre as causas e o perigo do aquecimento do planeta, é o terceiro filme do gênero mais visto na história desse país. Mas divulgar o fenômeno ao grande público não é suficiente, dizem os especialistas. “A mais importante entre as ações necessárias é estabelecer uma política nacional de redução das emissões de gases que causam o efeito estufa”, disse Claussen à IPS. “Cidades, Estados, indústrias e empresas estão todos de acordo com isso”, afirmou.
Por exemplo, a rede norte-americana de varejo Wal-Mart pede aos seus mais de 30 mil fornecedores que reduzam suas emissões de gases que provocam o aquecimento do planeta, de acordo com a maioria dos cientistas, com o dióxido de carbono na liderança. Esta companhia informa seus clientes sobre o problema, disse Claussen. O dióxido de carbono é emitido em grande parte pela queima de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás, em atividades como a indústria e o transporte.
“Mas pelo menos em dois anos, não haverá nos Estados Unidos uma política nacional de redução das emissões, e tudo parece indicar que vai demorar mais de quatro anos”, acrescentou Claussen. Em outras palavras, isso ocorrerá muito depois de o presidente George W. Bush ter deixado a Casa Branca. O Protocolo de Kyoto da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, assinado em 1998, obriga 34 países industrializados a reduzirem suas emissões em 5,2% em relação aos níveis de 1990, no período 2008-2012.
Os Estados Unidos assinaram o Protocolo de Kyoto, acordado na cidade japonesa de mesmo nome, mas o governo Bush retirou sua adesão com o argumento de que as reduções sairiam muito caro para a economia norte-americana em uma situação desvantajosa diante de grandes países em um pujante processo de desenvolvimento, como a China. Desde 1990, as emissões norte-americanas, que representam a quarta parte das emissões mundiais, aumentaram 16%.
O Canadá ratificou o acordo, mas suas emissões aumentaram quase 30% desde 1990, em grande parte pelo auge do setor de petróleo. Este país de elevada industrialização precisa de um bom plano de redução de emissões, mas o governo conservador do primeiro-ministro Stephen Harper carece de vontade política para elaborá-lo e implementá-lo, disse Morag Carter, diretor do programa sobre mudança climática da ambientalista Fundação David Suzuki. “Esperamos que o público convença os políticos a tomarem medidas a respeito”, acrescentou.
Mas além de mostrar preocupação, o público dos Estados Unidos e do Canadá não parecem se afastar de seus televisores e videogames para garantir que seus líderes políticos façam algo contra o aquecimento do planeta. Enquanto os que negam a mudança climática financiados pelas companhias do setor energético divulgam seus argumentos, os comentaristas dos meios de comunicação consideram que o assunto é “muito complicado” para saber com certeza o que fazer.
“Acredito que a imprensa norte-americana comece, finalmente, a compreender que o debate científico já concluiu” desmentindo os que desmentem, disse Claussen. O problema é que o público ainda não entende que suas decisões pessoas, como a compra de um automóvel ou uma lavadora, pode reduzir ou aumentar as emissões de gases causadores do efeito estufa, ressaltou. “As pessoas também minimizam a eficácia das ações pessoais, porque vêem muito poucas pessoas” tomando decisões corretas, acrescentou Claussen, dizendo que seria útil os consumidores terem claras apenas 10 medidas para tomar em sua vida cotidiana.
A Fundação David Suzuki lançou um programa nesse sentido há quatro anos, denominado Desafio Natural. Entre as ações recomendadas figuram uma redução de 10% no consumo de energia no lar, usar bicicleta ou transporte coletivo, comer alimentos sem carne pelo menos uma vez por semana (a digestão do gado também emite gases que levam ao efeito estufa) e escolher aparelhos domésticos adequados. Mais de 238 mil pessoas uniram-se ao programa, e uma vez por mês recebem novas recomendações. “Os canadenses estão dispostos a mudar seu estilo de vida. Centenas de pessoas se incorporam ao Desafio Natural a cada semana”, disse Carter.
Porém, as grandes indústrias canadenses, responsáveis por mais da metade das emissões dos gases causadores do efeito estufa do país, ainda têm muito por fazer para atingir a redução recomendada por muitos científicos a fim de frear o aquecimento do planeta, que chegará a 80% até 2050. O setor do gás e do petróleo, que ganham milhares de milhões de dólares ao ano, poderia se reconverter em uma indústria neutra em emissões a um custo de centavos por barril, segundo diversos estudos. Mas o governo do Canadá prefere a implementação de medidas voluntárias.
Isso está muito longe da redução obrigatória de emissões de 3% ao ano que, certamente, será aprovado pelo parlamento da Grã-Bretanha nos próximos meses, disse Catherine Pearce, diretora da campanha de mudança climática da organização Amigos da Terra Internacional. Apesar de o governo do primeiro-ministro Tony Blair ser um dos líderes mundiais na matéria, ainda não faz o necessário, de acordo com 70% dos britânicos entrevistados.
A iniciativa em exame no parlamento britânico poderá ser aplicada em outras nações, acrescentou a ativista, para quem a posição dos partidos em torno da mudança climática será crucial nas próximas eleições. A Alemanha considera uma redução obrigatória de emissões de 40% até 2020 caso a União Européia assuma um objetivo de 30%.
Para Pearce, o bloco europeu acredita que deve demonstrar liderança nesta matéria para que países em um processo de industrialização acelerada, como China e Índia, sigam seu exemplo. Por outro lado, boa parte dos legisladores dos Estados Unidos e do Canadá acredita que não devem fazer nada, a menos que estes dois gigantes asiáticos formulem seus próprios compromissos de redução das emissões. “A comunidade internacional está exasperada com a atitude irresponsável” dos países norte-americanos, concluiu Pearce.

Tradução